Materiais Didáticos para EJA e Diversidade

Este espaço foi criado com o propósito de agrupar pessoas que queiram compartilhar diálogos, experiências, pesquisas, sobre o tema dos materiais didáticos destinados a EJA ou aos públicos da Diversidade, como comunidades indígenas, quilombolas, e também discutir sobre como os temas da Diversidade são abordados nos materiais didáticos em geral. Pretendemos apresentar informações e realizar discussões sobre as políticas publicas de materiais didáticos, sobre produções de materiais didáticos e suas formas de circulação e ainda sobre os usos de materiais didáticos nos contextos de ensino-aprendizagem.

Paulo Eduardo Dias de Mello
Pesquisador e consultor

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Estudos de Osmar Fávero mapearam a produção didática para a EJA


Osmar Fávero tem trabalhos fundamentais sobre a produção didática para a EJA.
No campo da Educação de Jovens e Adultos, podemos afirmar que os estudos sobre o tema dos materiais didáticos foram inaugurados por Celso Beisiegel e Vanilda Paiva, nos anos de 1970. Esses estudos revelaram a importância que os materiais didáticos tinham como um dos elementos estratégicos da atuação político-pedagógica, tanto nas realizações do poder público, quanto nas ações que resultaram dos movimentos de educação popular, entre os anos 1940 e 1970. Ambos destacaram em suas análises a diversidade de materiais didáticos produzidos e destinados a EJA, predominantemente os materiais impressos e audiovisuais elaborados pelas campanhas oficiais e atuações da sociedade civil organizada - analisando seus conteúdos, em particular, os aspectos ideológicos, e as concepções pedagógicas subjacentes.
Nos anos 1980, foi Osmar Fávero (1983) quem empreendeu uma retomada dos estudos sobre materiais didáticos destinados a EJA publicando um artigo intitulado “Referências sobre materiais didáticos para a educação popular” em que realizou um mapeamento da produção didática para a educação popular dos anos 1950 a 1982. O texto apresentava um histórico cronológico da produção dos materiais didáticos com foco nas campanhas e programas de educação de adultos desenvolvidos, nos anos 60, pelos movimentos de cultura e educação popular promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela Igreja Católica, em particular, pelo Movimento de Educação de Base, o MEB. O texto também abordava, nesse período, as iniciativas do poder público e da chamada Cruzada ABC. Para os anos 1970 o autor menciona (mas não chega a analisar) a produção do MOBRAL, e destacava a intensidade e a variedade com que os materiais didáticos foram produzidos em formato impresso ou audiovisual por instituições ligadas ao movimento social popular. Já em meados dos anos 2000, num artigo intitulado “Materiais Didáticos para a Educação de Jovens e Adultos”, Fávero (2007) dá continuidade ao trabalho anterior e realiza breve balanço sobre a produção dos materiais didáticos para educação de jovens e adultos elaborados nos anos de 1980, e apresenta a produção dos anos 1990, com foco em materiais produzidos por iniciativas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para os programas Integrar e Integração; a proposta pedagógica do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e os materiais utilizados nos seus acampamentos e assentamentos; e os livros Palavras de trabalhador, editados pelo Sistema de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Os trabalhos de Fávero realizam um importante balanço da produção didática para a EJA, adotando como recorte a produção dos movimentos vinculados à tradição da educação popular. Além de uma narrativa sobre as circunstâncias que envolveram a elaboração dos materiais ligados a esses movimentos, sua análise detém-se na descrição de alguns aspectos relativos ao método e ao conteúdo sócio-político das obras. Uma análise mais detalhada do conteúdo do material didático é exposta por Fávero em sua tese de doutorado sobre o MEB (2006). Sua análise se desenvolve sobre dois materiais didáticos elaborados pelo movimento, os livros de leitura destinados ao processo de alfabetização de adultos e manuais de orientação aos professores e responsáveis pela produção das aulas radiofônicas que formavam: o conjunto didático Viver é lutar (1963) e o conjunto didático Mutirão (1965). Na análise do conjunto didático Viver é lutar, Fávero inicia com uma contextualização do momento de produção do material, no início dos anos 60, descrevendo os antecedentes, as intenções e as formas de recepção social do material (inclusive sua apreensão pela polícia do então estado da Guanabara e inquérito pelo DOPS). Em seguida apresenta os fundamentos educativos, descreve a organização do material e discute brevemente a relação presente entre texto e fotografias, aliás um elemento chave do material. Na sequência analisa o conteúdo político-ideológico de cada uma das 30 lições que compunham o material. A análise é finalizada com a discussão sobre as repercussões e o significado político do material e as articulações entre os interesses das classes trabalhadoras com as diretrizes e ações do MEB e da Igreja Católica no campo social. 
Sua análise dá pouco destaque aos exercícios gramaticais e atividades, e, portanto, aos aspectos intrinsecamente pedagógicos do material, dando maior ênfase aos fundamentos políticos e ideológicos. Na realidade, para Fávero os aspectos pedagógicos confundem-se com os aspectos políticos, pois entende que uma didática para educação de adultos deve promover a alfabetização simultaneamente com a “conscientização” que prepara a pessoa para engajar-se na transformação da sociedade.
Obviamente, a obra analítica de Fávero deixa lacunas sobre a produção didática, na medida, em que prioriza a produção vinculada aos movimentos de educação popular, sem se ater aos demais atores que produziram materiais para a EJA. Mas isso não é demérito algum, apenas um recorte, aliás deliberado, e que deriva de uma opção politicamente assumida de dar voz aos grupos militantes da educação popular.

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