Fragmentação, diversificação e contradições ainda marcam a política
de materiais didáticos do MEC.
Longe de
ser uma política única e homogênea a política de materiais didáticos do MEC é
marcada por sua fragmentação, diversificação e contradições internas. Uma
primeira característica das ações sobre materiais didáticos no MEC é sua
fragmentação em diferentes programas, ações e projetos que são executados por
distintos agentes de sua estrutura organizacional, a exigir uma relação ativa
entre os colaboradores. Esta característica pode ser explicada pelas diversas
configurações e remodelações que a estrutura organizacional do Ministério teve
ao longo de sua história, e as diferentes formas de formulação e execução das
políticas educacionais e divisão de atribuições entre autarquias e secretarias
do MEC.
Efetivamente,como
o MEC tem executado nos últimos anos sua política de materiais didáticos? Em
primeiro lugar, os materiais didáticos não representam um eixo específico da política do MEC. Não há um locus na estrutura do ministério ou um
documento norteador que dê os parâmetros de ação para a política de materiais
didáticos desenvolvida em todo o MEC. Um olhar sobre os agentes internos do MEC, ou seja, suas
secretarias, suas diretorias e autarquias (FNDE e INEP) permitem perceber que a
política de materiais didáticos do MEC é polifônica, isto é, executada em
diferentes linhas de ação e desenvolvida sob a perspectiva da colaboração, por
diferentes agentes de sua estrutura organizacional. De fato, inexiste no MEC,
por exemplo, uma secretaria, ou diretoria, ou órgão destinado especificamente a
coordenar todo o conjunto de ações do Ministério que envolvem produção de materiais didáticos. Cada secretaria,
cada diretoria dentro de uma dada secretaria e as autarquias do MEC desenvolve
programas[1] cuja
finalidade pode ser avaliação, produção, reprodução, aquisição e distribuição
de materiais didáticos e tecnologias educacionais.
Um exemplo
desta fragmentação e processo de colaboração entre o MEC e uma autarquia pode
ser observado quando analisamos, por exemplo, o programa relacionados ao livro
didático. O MEC executa atualmente quatro programas voltados ao livro didático:
o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro
Didático para o Ensino Médio (PNLEM), o Programa Nacional do Livro Didático
Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA), e mais recentemente o PNLD Campo.
Podemos verificar que, por exemplo, para a execução do PNLD-EJA diferentes
competências são distribuídas entre três atores centrais: a SECADI e o FNDE. O
FNDE, por exemplo, realiza a avaliação técnica das obras didáticas, a SECADI é
responsável pela avaliação pedagógica e os parceiros do Programa Brasil
Alfabetizado e redes públicas de ensino efetuam a escolha das obras.
Descentralização e partilha de responsabilidades caracterizam, portanto, a
política de livros didáticos do MEC para a Educação de Jovens e Adultos,
características que se estendem para os demais programas de livros didáticos.
Outro
aspecto relevante das ações que envolvem a política de materiais didáticos do
MEC é a diversidade de
recursos didáticos que são
objeto de iniciativas e programas. Como vimos o MEC não toma o conjunto de materiais
didáticos como uma categoria, nem a possui como um eixo de sua política. Na
realidade, o MEC realiza através de diferentes programas e ações a avaliação, a
produção, ou a aquisição e distribuição de uma grande diversidade de recursos
didáticos. [2]
Vista em
seu conjunto, pode-se dizer que a política de material didático atualmente
praticada pelo MEC é voltada para quatro grupos de materiais:
Tipo
de Material Didático
|
Programa(s),
Ações
|
Agente(s)
Executore(s)
|
Ação
Executada
|
Livros
didáticos e obras de referência (dicionários)
|
PNLD,
PNLEM.
PNLD-EJA
– PNLD Campo
|
SEB/FNDE
SECAD/FNDE
IPES
Redes
Públicas de Ensino
|
Avaliação,
escolha, aquisição e distribuição
|
Acervos
literários[3]
|
PNBE
|
SEB/SECAD/
SEESP/FNDE
IPES
|
Avaliação,
aquisição e distribuição
|
Tecnologias
educacionais
|
GUIA
DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
|
SEB
IPES
|
Pré-qualificação
|
Recursos
multimídias de acesso público
|
PORTAL
DO PROFESSOR
|
SEB
SEED
|
Avaliação,
Divulgação
|
Como se
sabe, a principal política pública de compra e distribuição de materiais
didáticos do MEC é voltada aos livros didáticos e obras de referência, ou seja,
materiais impressos. Esta política é executada através de dois programas: o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca da
Escola - PNBE. A execução dos programas do livro é realizada com distribuição de
responsabilidades entre secretarias do MEC, no caso a Secretaria da Educação
Básica - SEB e a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão– SECADI e o Fundo
Nacional para Desenvolvimento da Educação – FNDE. Estes programas têm sido
progressivamente ampliados para atender demandas específicas do público escolar
ou do tipo de livro a ser adquirido para a composição do acervo escolar, como é
o caso recente da educação do campo.
Cada um
dos programas possui objetivos específicos quanto ao tipo de material que tem
como objeto e qual o seu público alvo e pode ganhar novos contornos com tempo.
O programa mais antigo, com maior aporte de recursos e maior volume de
materiais adquiridos é o programa do livro didático, o PNLD. Este programa foi
estruturado ao longo do tempo, com novos elementos sendo incorporados
gradualmente, tais como as obras didáticas de determinadas disciplinas do
currículo escolar, como o espanhol, por exemplo, e outras obras tais como os
dicionários e livros de apoio ao alfabetizador. Mas não há exatamente programas
que cubram a diversidade dos recursos didáticos. Os programas principais são
assim complementados por ações de apoio, de fomento, de produção, de
co-produção, algumas pontuais.
A política
de materiais didáticos do MEC resulta justamente desta costura de programas
já consistentes e ações pontuais desenvolvidas em outros programas e projetos.
Elas envolvem cooperativamente os diferentes segmentos da estrutura ministerial
e, também, mobilizam parceiros externos. Todavia constata-se a ausência na
estrutura do Ministério de um setor ou órgão que seja responsável pela
definição de uma política de materiais didáticos que atenda aos diferentes
públicos escolares. Assim,
não é incomum, por exemplo, a sobreposição
de ações, como a produção de obras literárias, de livros didáticos
por diferentes programas, mas cada um adotando diferentes formas de concepção,
elaboração e critérios próprios de avaliação. Algumas produções, inclusive, se
fossem submetidas aos mesmos critérios de avaliação adotados no PNLD, por
exemplo, correriam o risco de serem reprovadas na avaliação dos aspectos
técnicos ou materiais e os pedagógicos.
Falta ao MEC uma estrutura que pense em seu conjunto os materiais didáticos e as políticas futuras, cujo desafio está na superação dos recursos impressos e a incorporação de novos suportes e tecnologias.
[1] Existem diversos programas e ações em
andamento relacionadas a produção, avaliação de materiais didáticos. São
exemplos: SEED - chamada para conteúdos digitais para o Portal do Professor;
SECAD - Cadernos literários, Concurso Literatura Para Todos, dentre outros;
SEB- Guia de Tecnologias, PNLD.
[2] Apesar de empregarmos, por vezes, a
expressão política de materiais didáticos, que pode dar uma ideia de organicidade
de ações e propósitos, o MEC, efetivamente, não a utiliza em seus documentos, e
tampouco a pratica enquanto tal.
[3] Citamos aqui os principais programas
consolidados. No caso dos acervos literários, há iniciativas de produção
literária, para EJA e Relações Étnico-Raciais, desenvolvidas no âmbito da
SECAD, tal como o Concurso Literatura Para Todos, que ainda não se consolidou
como um programa.
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